POESIA & INSIGHTS
"A poesia não é minha. É como o vento, que só passa através de mim." Chico Xavier

sábado, 28 de março de 2009

You who?


Não sei quem tu é, nem o que quer de mim. Melhor, nem te conheço.
Já sei que vai gostar de calcinhas pequenas, cabelo cheiroso e bom humor. Tô vendo que
teu sorriso estará congelado quando eu estiver contando meu dia.
Até sei que sua mãe sempre vai fazer por você aquilo que deixei de fazer pra te ver amadurecer. E também vi que eu entrarei no banheiro só pra chorar baixinho.

Reconheço os dias que você estará cansado, estressado e cego. E tua mão zapeando os canais enquanto a minha lava a louça. Depois disso, umas duas ou três sugestões daquilo que você gosta de fazer. Aliás, você será um cara super sincero e transparente.
E só fazer o que você gosta de fazer, nesse caso, parecerá um mérito.

Nos meus dias mais inspirados te esperarei com intensidade: na comida, na vontade, nas palavras, no olhar... Mas o mais simples dos teus roteiros sempre surtirá mais tesão do que minha maior imaginação...

Então, minhas doces (e platônicas) declarações serão tão breves até que a próxima onda venha e as apague.



(está foto nunca será tirada porque esse amor nunca terá espaço dentro de mim)

segunda-feira, 23 de março de 2009

Performáticos que somos


Somos todos performáticos.
Adoramos um melodrama, adoramos contar histórias tristes, pegar o telefone e alugar ouvidos.
Adoramos chá com choro. Melhor ainda quando damos aquela levantada de cabeça pra ver se o travesseiro está muito molhado, médio, ou pouco.

Ninguém quer a verdade, ninguém. (nem Arjuna quis...)
A gente sabe, sabe sim quando estamos entrando numa fria, mas entramos! Porque lá de fora sempre tem alguém observando, e eu quero me sair bem...

Mas depois reclamamos e vamos pra frente da Tv tomar cerveja...

É o mesmo que pedir café sem açúcar e depois fazer cara feia pro gosto. Ou pedir "pelo amor de Deus" que ele lhe traga um novo amor, e quando o novo amor knock knock kncok, você corre e se esconde.

Nós não queremos ninguém igual a gente! Nós adoramos adotar! (problemas, exes, aquele que dá pra cuidar ou amadurecer...) Recebi carinho, desconfiei, recebi um fora, gamei. Friamente analisando, parece coisa de maluco.

O que está nos faltando? Eu não gosto desse jogo doido, mas quando menos espero sou jogada de um lado pro outro como uma peça de xadrez!

(Algum psicólogo, por favor, se pronuncie)

Eu sei quem sou, o que quero, e aonde vou. Isso nesse momento. Daqui a pouco não sei mais nada! Não reconheço você, nem você, nem você!

Muito menos as minhas mentiras mentirinhas, as que conto a mim mesma. Porque a verdade pode estar no Yogananda, pode estar no O Segredo (...), ou pode estar no Gita! E medito...

Sabe que por anos fiquei com uma frase na cabeça, do meu orientador de mestrado, um Judeu muito doido, que dizia "Miilinha! Os opostos se atraem mas só os iguais é que vão ficar juntos!" Eu não podia concordar com ele, porque senão não haveria crescimento. Mas hoje, nossa querido Jacques, os iguais viram amigos e os opostos quase se matam, um querendo ter o palco maior que o do outro...

(Ensaio aberto. Tenho que sair pra dar aula)





(foto de um quadro exposto numa Galeria de arte em Atlanta)

domingo, 22 de março de 2009

Pode vir



Quero saber por onde você anda, onde anda voando, em que pensa, com qual frequência.
Sou assim mesmo, apaixonada, profunda, confusa e gostosa. Sei que preferes assim, de verdade, em carne viva, com suor, com choro, com gozo.
Por todos os cantos te cato, dentro da minha cabeça somos nós dois grudados.
Fora do meu corpo procuro os teus contornos, tuas cores, teu olho, teu sorriso.
Dentro de ti escondo meus segredos que aos poucos vão me sendo revelados.

Volta pra casa, volta pra casa, vem de volta. Volta.
Desapegue das tuas regras, das tuas leis. Deixa tuas mãos descobrindo cada letra minha, cada rima, cada nota não tocada.

Não sabia disso, não pronunciaria isso, porque amor sempre foi pra mim atraso ou ansiedade. Foi até deixar de ser.

Não sei quando nem porquê, não sei.

E fico entre abrir os olhos ou mantê-los fechados. Mantendo meus olhos fechados, imagino, me iludo, crio, construo você. Seu sorriso grande, ampliando cada detalhe daquele pouco que te conheço. Seus olhos...

Abrindo os meus, vejo o sol lá fora, refletido, de leve, tímido, crescendo, na tua lua de Shiva. E sua imagem criada vai sendo desconstruída, no lugar ficando a realidade da distância, do tempo, do espaço.

Mas cada vez mais pura, presença.


(foto: Venezuela, em 2007)

Be more silent



Quando você vive o presente, você desapega.
Quando você vive o presente, você vive, e não sonha.
Quando a gente sonha, leva-se tempo pra sanar a dor do tombo, dizendo que está na hora de acordar.
Quero seguir meu coração, meu Dharma. Chamo por você meu Deus, porque não consigo entender o mundo lá fora, porque os outros são tantos que a única coisa que têm fixo é o nome. Muda-se as vontades, os sonhos, a máscara, e também o quanto resolveu querer na conta do banco.
Não sei mais agir, quando e o que falar, porque a qualquer hora tudo pode retornar como um tiro forte contra eu mesma. E silencio. E quanto mais silencio, mais ouço você dizendo que devo silenciar mais ainda.
Quero ser forte, quero ser forte, quero ser forte.
Mas o muro que me separa de você é cada vez mais alto, e o caminho cada vez mais longo.
Eu peço paz, e ela não vem; peço verdade e tapo os ouvidos porque não suporto saber que ela anda pequenininha...

Hoje é um dia que eu queria partir, estando bem aqui; queria ficar um pouco mais desde que invisível. Então levanto e saio, e quando olho pra trás vejo...luz! Foi você quem ficou no meu lugar enquanto estive fora de mim mesma?

"sit quietly and listen for a voice that will say: Be more silent" (Rumi)

(foto tirada em Toronto, no Canadá em 2008)

Om


Naquele dia enxerguei você de perto, olhos fechados, o vento beijando minhas costas.
O sol fazia de conta que não testemunhava tamanha felicidade. Lá embaixo míseros irmãos fugindo do amor, e eu, até que enfim, num espaço onde permiti com que a luz da tua vinda chegasse até meus pés e me tocasse pedindo licença. O teu amor, assim foi dito, viria devagar, confuso, cheio de palavras tortas escritas em linhas retas. E não tardaria também essa mesma confusão me deixar com medo.
Nesse instante, o sol se escondeu triste atrás daquela nuvem, e o frio, num segundo, me abraçou e suspirei. Não deveria ter temido, não deveria ter duvidado. Não era certo ter esquecido que você está aqui e eu aí. E lá fora de mim grudei uma mão na outra, e com todo meu silêncio cantei.

Foi então que houve um silêncio muito alto...

Tarde demais?

(foto: ah, Praia do Evory, na Guarda do Embaú, minha casa...)