POESIA & INSIGHTS
"A poesia não é minha. É como o vento, que só passa através de mim." Chico Xavier

sexta-feira, 24 de julho de 2009

FRAGMENTOS - Maiakóvski




1

Me quer ? Não me quer ? As mãos torcidas
os dedos despedaçados um a um extraio
assim tira a sorte enquanto no ar de maio
caem as pétalas das margaridas
Que a tesoura e a navalha revelem as cãs e
que a prata dos anos tinja seu perdão penso
e espero que eu jamais alcance
a impudente idade do bom senso.

2

Passa da uma você deve estar na cama
Você talvez sinta o mesmo no seu quarto
Não tenho pressa
Para que acordar-te
com o relâmpago de mais um telegrama

3

O mar se vai
o mar de sono se esvai
Como se diz: o caso está enterrado
a canoa do amor se quebrou no quotidiano
Estamos quites
Inútil o apanhado
da mútua dor mútua quota de dano




(
Vladimir Maiakóvski é o maior poeta russo moderno. Foto: jogo de sinuca em Memphis, 2004)

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Estamos todos perdidos




Aham sadhaka (Sou o buscador).
Nos perdemos (caos) para que possamos, a cada instante, ser recriados.
É essa mágica que nos mantém caminhando, buscando, desejando, conquistando e se perdendo outra vez.

Mas o interessante da palavra Perder é que ela comporta significados diferentes. Na minha poesia, por exemplo, eu utilizo "perder-se entre uma respiração e outra; perder meus pedaços como num quebra cabeças para que tenha sentido a tua vinda."

Não há nada de mal em estar perdido: que seja numa cidade, que seja entre saldo do banco, que seja perdidamente apaixonado.

Não há nada de mais em perder a trilha, porque quando você vê que está perdido, já está "meio achado", pois ali existe a consciência do seu estado.

Espaço onde entra a esperança do reencontro: nas esquinas, nos cálculos, nos planos, num abraço demorado. Não há nada de mal estar perdido, porque se perder significa também simplicidade, aceitação dos seus limites, entrega, expiração.

E até que você esteja completamente perdido, não terá a esperança de se encontrar por inteiro.

"Until we lose ourselves there is no hope of finding ourselves" Henry Miller



(texto: darsana diário de 17 de julho / foto: Train Ferry em Atlanta)

terça-feira, 14 de julho de 2009

48 horas



Assim nasceram dois dias.

Indiferente com o sol lá fora, suspiro presente no travesseiro.
Coloco tênis ou saio de hawaianas, mostrando para o mundo que tenho pés frios?
Não estou em foto nenhuma, não visito site algum, não me conecto mais.
Indisponível por dizer. Uma boa menina.

Das 48 horas atrás lembro alguma coisa, mais precisamente os temperos que usei no meu arroz. E do sorriso de Jolie. Fora isso, peço desculpas, culpa do software que mandei instalar no meu hd...

Que o inverno se responsabilize de carregar as folhas secas do outono, nesse vento quente, tão indiferente do frio que bate aqui dentro. Segredos foram levados pelo carrinho do jardineiro.

Na voz das cordas acordei cantando; adormeci viajando, seu corpo nu, um japamala que brilha combinando com o suor que escorria da sua testa. Cordas se juntam, se separam, fluindo entre o toque e a despedida, entre acordar e discordar.

Das 48 horas que ficaram nas 72, vazio. Não lembro nem as contas que paguei, esqueci também do abajur ligado por tempo demais.

Primavera deixou inclusive nascer ervas daninhas no canteiro dos meus olhos, lágrimas não bem vindas que deixam meu corpo pois cansaram de esperar o momento de sair por amor.

Saíram porque em 48 horas seriam esquecidas.

Lágrimas de quem acordou antes da hora, e fica com sono, e fica perdida.

sábado, 11 de julho de 2009

Meus dois joelhos



No caminho meus joelhos andam em direções opostas.
Quando amo, eles se distanciam, um para cada lado...
Na dúvida se eu tenho guarda chuva ou não, corro, e aí eles se perdem num ritmo alucinante.

Na minha meditação eles reclamam; nas posturas, aguentam.
Se arrumo as malas e decido ir embora, eles tremem.
Se sento na calçada em frente a sua casa, esperando você chegar, eles não me deixam levantar.

Na hora da fome, eles sabem onde me levar, mas na hora da fome de você, eles resolver doer.

Aquele dia que fechei os olhos quando você quis viver um outro dia lá fora,
meu joelhos se dobraram...

Cuidado com o domingo, ele não está sempre tão disposto:
acordo rouco, água morna pra colar a alma no corpo.

Meus 34 anos com joelhos nada alinhados questionam quando eu ficarei sentadinha, joelhos alinhadinhos, abraçando-os com a cabeça colada neles, esperando você me beijar.

Canção do eu pra eu, que não saio do mesmo lugar.

Bola oito




Amor é indecente
Amor que fala e mente
Amor que me abraça, amor que se arrasta

Amor que joga duro
Amor que só faz luto
Amor que se apaixona
Amor que perde tudo

Amor que te machuca
Amor que toca a nuca
Amor que se deleita
Amor que me estreita

Amor que foge e atira
Amor de armadilha
Amor que lambe os dedos
Amor bem encrenqueiro

Amor que dá em árvore, amor que perde o bus;
Amor que toca e canta, amor que me encanta.

Amor de boca em boca
Amor de peito aberto
Amor de peito nu; amor de ego nu.

Amor que sente falta
Amor que desatina,
Amor que foi embora
Amor que perde a rima.

Amor que se esquece,
amor que terminou.
Amor que acorda a gente,
Amor que nunca amou.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Sou rio transparente e quase parado



Ouvidos:
Pra que servem se são teus olhos que escutam o que falo?

Minhas palavras:
Pra que servem se debato, na verdade, com teu inconsciente?

Meus conselhos:
Se na verdade, você sabe o que deve ser feito?

Minha humildade:
Pra aceitar tua mão?

DVD do Peanuts:
Pra ver Lucy (você) puxando a bola mais uma vez de Charlie Brown (eu)?

Uma calcinha pequenininha:
Se você só enxerga a saruel, enorme, branca?

Meu cheiro:
Se você ainda tem medo do meu abraço?

De que serve teu exagero, teu fogo, uma re_volta?
Minha ida, tua derrota?
Minhas unhas pintadas, meu sorriso irritado porque teu olho cola na minha pele cada vez que você me olha?

A curiosidade de um homem que mesmo cego enxerga tudo o que me fascina;
Que decupa minha vida e sossega as mãos no meu corpo imaginado.

Desestrutura esse medo, rasga os sutras não digeridos, deixa eu pintar no teu presente o que vai ficar marcado no futuro.

Meu corpo de ouro, teu tesouro escondido.

domingo, 5 de julho de 2009

The Poetists Manifesto



'Poetism seeks to turn life into a magnificent entertainment,
an eccentric carnival,
a harlequinade of feeling and imagination,
an intoxicating film track,
a marvellous kaleidoscope.

Its muses are kindly,
gentle and smiling,
its glances are as fascinating and inscrutable as the glance of lovers.
'



Um resumo do Manifesto dos Poetas criado em 1969 em Londres, por Alfred French.

Abre a janela, Shiva


Cansei das portas. Acabei de impor a mim mesma que chega.
Chega de portas fechadas, onde fico batendo e alguém grita lá de dentro que "tem gente", e essa gente tem a chave, mas não vem abrir.

Fico tateando no escuro procurando a tal da chave de luz, mas não encontro. Os mantras têm pego forte em mim: muita vontade de derreter carência com o choro.

Minha carência anda me deixando séria, fechada. Cada vez mais fechada e com menos esperança. Shiva larga pra mim portas fechadas, homens incríveis que querem ser meus amigos. E amigos de todo mundo. E todo mundo com coração assando, querendo ser amigo de todo mundo. P.A. pra cá, P.A. pra lá e você que se contente com isso, pois é o que há de melhor no "mercado".

Não consigo, sou fresca, sigo provinciana nesse quesito. Foda? Só com amor.

Encosto no seu rosto que pede carinho e você foge. Porque então você permite que teus olhos fiquem em mim? Encosto na tua alma e você muda de assunto e prefere ir dormir.

E depois somos nós que temos que acordar...

Estou cansando de estar cansada. Caminho, contra minha vontade, para um lugar onde acabarei desistindo de encontrar amor, de poder compartilhar esse absurdo de sentimentos que pulsam dentro de mim como uma bomba espiritual pronta para explodir.

Pai: fala qual é a missão, seja claro. Eu fico olhando meu sofá, vazio, e minha mente inquieta se pergunta: Porque está vazio esse sofá de três lugares, onde só um está ocupado?

Abre essa janela Shiva, pra ver se eu consigo ver a luz lá fora, já que você insiste em manter as portas fechadas.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Filme que não terminou


E eis que abro o livro e, ao invés de texto, encontro uma foto.
Os mesmos olhos - ainda falta uma tatuagem no braço, quase vi uma atrás daquele copo...

Imaginação minha, que já cria pedaços de você perdidos por aí como peças de um quebra cabeças de uma história de cinema, como presente de criança pequena, que quer abrir pacote com pressa e... tudo se perde.

Tuas cores rebobinam esse filme que ficou guardado em algum lugar aqui dentro.
Não lembro. Tento, mas não lembro.

Não sei porque parou, nem porque não foi, não sei quem ficou.
Sem.

Sem uma despedida, quem ficou sem resposta, se houve uma perdida ou um esquecido no meio do caminho. Se foi uma menina que dançou ou um homem que ficou sem seus mais profanos sonhos...

Existe sempre uma outra história, um recomeço para um fim, que talvez nem peça recomeço, ou adoeço e fecho os olhos para refletir.

Tudo aquilo que passa na minha cabeça como um filme que pede continuação.

Mas talvez eu não dure mais um dia, talvez eu seja tão perecível quanto essa poesia.




foto: céu de Atlanta, lanterninha cor de rosa na nuvenzinha.)

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Quando o ego adormece



Eu abro o meu caminho

Através das minhas mãos


Minhas palavras traduzem

O que passa na minha cabeça


No meu corpo tatuo o movimento


Inspiro a entrega, acendo uma luz!


Meus braços longos abraçam a calma


Enquanto que meus olhos escondem aquilo que leio,


mas não quero ouvir.


Eu leio com o toque

E você é onde escrevo


As linhas saem tortas


Contornos do teu corpo

Eu me perco...


O amor se faz, não se acha

Eu já construi 3 lágrimas:

A da distância, a do tempo

E da tua língua me derretendo...

Meu corpo seu,

Teu corpo, eu.


Me rendo.


(foto: Braço do co-autor desse poema.)