POESIA & INSIGHTS
"A poesia não é minha. É como o vento, que só passa através de mim." Chico Xavier

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Sobre andar de balanço



Eu adorava andar de balanço quando criança.
No parque já chegava procurando o "meu" balanço, sentava lá e dava um impulso bem forte, movimento simples mas que já me colocava no ar.

A subida difícil até alavancar e a decida, o frio na barriga.
E engraçado é que é a melhor parte da brincadeira era exatamente o frio na barriga.

Era a vulnerabilidade.

Na subida, o balanço indo pra trás: meus esforços, minha marcha, meus pés me dando o pulso para subir ao céu. Meu sofrimento.

Quando solta, as pernas iam láaaaaaa encima e cada vez mais e mais e mais alto. Ainda quando possível, segurava firme a corrente com as mãos e jogava a cabeça lá pra trás: quero ver o mundo invertido, quero desafios gostosos, quero a sensação de liberdade.

Eu sei que pra eu alçar vôo é necessário meus pés cravando no chão, é preciso a intensidade da ação, meu corpo uno com o presente, senão tem o risco de eu cair de cara na areia. Eu sei que para me jogar pra trás com o sorriso colado na cara, eu preciso antes do esforço pra me colocar no espaço da velocidade, e antes ainda, quando eu decido sentar lá no balanço, minha confiança em mim mesmo, piloto do meu avião.

Eu confio: vou para o parque diversões da vida para me divertir como criança.
Eu aceito: o desafio de, se cair, limpar o joelhos, tascar um bandaid e ir tentar mais uma vez.
Eu agradeço: quem quer que seja que vai lá atrás pra me dar um empurrãozinho.
Eu entrego: o resultado das minhas ações, o frio no estômago de medo e ao mesmo tempo de excitação, mas principalmente a oportunidade de colocar meu Ser em estado de graça.

E achando muita graça, dou risada, como uma criança.



(para Professor Hermógenes, Aquele que há tempos vem me dando um empurrãozinho.)

Foto e vídeo: No ar com Moikano, brincando de levantar vôo, já que minha idade biológica não me permite entrar nos parquinhos...

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Vivendo o Tao


O passo no caminho do Tao -
Aceitar as coisas como são.
O salto pra dentro do Tao -
Ver graça nelas.


Escrito por Rodrigo Cota



("Your hands closed in my chest and there like two wings they ended their journey."
Pablo Neruda)

Suas mãos fechadas do meu peito são como duas asas que finalmente terminaram a sua jornada.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Requiém para dois anjos



Somos anjos de uma só asa,
e só poderemos voar,
quando abraçados um ao outro.

Nas notas de Pink Floyd:

"We are two lost souls, swimming in a fishbowl...
what have we found? The same old fears...
Wish you were here
" (my Shiva...)

O tao de um yogi poeta - de Rodrigo Cota



O Todo é simples
O pedaço é simplório
O Todo é redondo
O pedaço é redundante

O Todo age reto
E vai direto ao ponto
O pedaço discursa, dá voltas
E não chega a ponto algum.

(foto: O Om na janela do quarto Baleia, Montanha Encantada 2007)

Se - Professor Hermógenes



  • Se, ao final desta existência,
    Alguma ansiedade me restar
    E conseguir me perturbar;
    Se eu me debater aflito
    No conflito, na discórdia…

    Se ainda ocultar verdades
    Para ocultar-me,
    Para ofuscar-me com fantasias por mim criadas…

    Se restar abatimento e revolta
    Pelo que não consegui
    Possuir, fazer, dizer e mesmo ser…

    Se eu retiver um pouco mais
    Do pouco que é necessário
    E persistir indiferente ao grande pranto do mundo…

    Se algum ressentimento,
    Algum ferimento
    Impedir-me do imenso alívio
    Que é o irrestritamente perdoar,

    E, mais ainda,
    Se ainda não souber sinceramente orar
    Por quem me agrediu e injustiçou…

    Se continuar a mediocremente
    Denunciar o cisco no olho do outro
    Sem conseguir vencer a treva e a trave
    Em meu próprio…

    Se seguir protestando
    Reclamando, contestando,
    Exigindo que o mundo mude
    Sem qualquer esforço para mudar eu…

    Se, indigente da incondicional alegria interior,
    Em queixas, ais e lamúrias,
    Persistir e buscar consolo, conforto, simpatia
    Para a minha ainda imperiosa angústia…

    Se, ainda incapaz
    para a beatitude das almas santas,
    precisar dos prazeres medíocres que o mundo vende…

    Se insistir ainda que o mundo silencie
    Para que possa embeber-me de silêncio,
    Sem saber realizá-lo em mim…

    Se minha fortaleza e segurança
    São ainda construídas com os materiais
    Grosseiros e frágeis
    Que o mundo empresta,
    E eu neles ainda acredito…

    Se, imprudente e cegamente,
    Continuar desejando
    Adquirir,
    Multiplicar,
    E reter
    Valores, coisas, pessoas, posições, ideologias,
    Na ânsia de ser feliz…

    Se, ainda presa do grande embuste,
    Insistir e persistir iludido
    Com a importância que me dou…

    Se, ao fim de meus dias,
    Continuar
    Sem escutar, sem entender, sem atender,
    Sem realizar o Cristo, que,
    Dentro de mim,
    Eu Sou,
    Terei me perdido na multidão abortada
    Dos perdulários dos divinos talentos,
    Os talentos que a Vida
    A todos confia,
    E serei um fraco a mais,
    Um traidor da própria vida,
    Da Vida que investe em mim,
    Que de mim espera
    E que se vê frustrada
    Diante de meu fim.

    Se tudo isto acontecer
    Terei parasitado a Vida
    E inutilmente ocupado
    O tempo
    E o espaço
    De Deus.
    Terei meramente sido vencido
    Pelo fim,
    Sem ter atingido a Meta.


(Foto: Borboleta Dani na areia da Pinheira. "Se" é dedicado a Rodrigo Shiva Cota)