POESIA & INSIGHTS
"A poesia não é minha. É como o vento, que só passa através de mim." Chico Xavier

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

o que menos importa



pouco me importa se meu ombro descascou ou não. prefiro saber se o sol anda alimentando você bem, com a quantidade certa de vitamina E.

não estou nem aí se você saberia repetir tudo aquilo que te disse ontem, ou se esqueceu de que havia conversado comigo. prefiro te perguntar se andas dormindo bem.

nunca saberei se teu sorriso esconde medo, porque dentro do meu é tudo que tenho. o interessante dos dentes é que eles aparecem na gargalhada e na raiva também.

então, caio no balanço dos meus sentidos que soluçam por uma calma minha. "calmamiila, calmamiila"...

e me percebendo, vejo no espelho ou minhas olheiras ou meu sorriso, conforme a voz que escuto, conforme a pessoa que converso. e talvez seja isso.

aliás, é isso: não basta carro importado - que ao invés de símbolo de um leão, ou de um jaguar, ou de sei lá o quê, que teu veículo tenha uma tatuagem.

que ao invés de mesas com aquele monte de talheres e copos e garçons, tenha picnic na areia. simples assim. e sem tênis, ainda sinto meus pés no chão.

o que faz sentido do meu lado esquerdo, não faz do lado direito. mas posso diferenciar aquilo que me deixa feliz e rindo sem motivo de tudo aquilo que me confunde, me desilude...

e hoje caminhando em busca do meu almoço, o que coloquei no prato foi salada e proteína, mas o que comi foi pensamentos de gratidão pela tua existência, digerindo você espiritualmente, aceitando que tua felicidade me inspira, que tua ausência cola em mim, que

que

que

que

tua escrita me cutuca pra caminhar e ser feliz.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Vai e Volta e o que existe entre um ponto e o outro




Me passa a borracha por favor.
Parece que já li, ouvi e vi essa história antes. Talvez eu apague um pedacinho pra ver se ela se reinventa no próximo século e vira frisson na literatura ou no cinema.

Foi Paulo Coelho quem contou que, sentando na pedra ele sentava e chorava. Deu a volta no mundo todo pra entender que debaixo da bunda dele estava o tesouro que tanto procurava.

Depois de um certo upgrade intelectual meu, fui assistir O poder além da vida, e Nick Nolte (só gravo pelo nome dos atores, e nunca pelo personagem, por isso parei de ver novela) fez o garoto perfil americaninho de fuleiro fanfarrão e que de repente tem o clique, subir uma montanha e achar uma pedra (olha a pedra novamente) pra entender que o "que ele tanto procurava estava dentro dele, e não esperando em algum lugar no final da caminhada".

Dammit! E eis que no livro de Herman Hess Sidharta Gautama, o mesmo drama encontra os olhos meus. Saindo desenfreado mundo a fora, procurando do lado de fora o que, no fim da história (vida) descobre estar debaixo do nariz dele, vai Sidharta aproveitar tudo de bom que o mundão oferece praqueles que ainda acreditam estar perdendo alguma coisa quando resolvem se ENTREGAR*. Buscando o efêmero, as coisinhas que me fazem tinhoso (a), os cheirinhos, estímulos visuais do que é bonitinho (a), para que, peloamordeDeus seja mais fácil o processo até eu cair na cama e acordar uma nova mulher (homem).

(porque será que temos vontade de tomar banho quando fazemos besteiras e queremos nos livrar delas?)

*Entregar-se: ao silêncio, ao amor, a vontade de casar e ter mais filhos, a permissão de parecer brega porque a vida toda esculhambei quem quis casar e ter filhos e agora percebo o vazio se instalando; a troca da solidão no meio de uma multidão, pela solitude boazinha abraçado no ar condicionado.

Não saio mais do lugar: fui parar em Oahu, SanFranscisco, procurei em Nova York, em Buenos Aires. Fui pra Salvador que não salvou dor alguma; depois Guarda do Embaú, Ferrugem, Garopaba, Portinho, Novo Hamburgo, vulgo Nóia. na Georgia visitei o Elvis, fiz perguntas mas parece que ele dançou. No Alabama, Mississipi, Arizona, Los Angeles, Tijuana, San Diego, e Miami que nunca me amou. No Chile fui parar no Paraguai. Em Recife resolvi me perder na Uruguaiana. E depois Nova York novamente, pra ter certeza do que eu ainda não tinha certeza:

De que, entre a ida e a volta, existe o que nunca bate a porta.
Aquela (e) que fica quietinho esperando eu dar uma chance e me entregar.

E aquela criança que eu tanto procuro, que perdi com medo do escuro, de tanto dar voltas no mundo, não está longe, nem dentro de mim.

Está entre um extremo e o outro: aqui do lado.

A criança dentro de mim, refletida nos olhos de um filho meu, esperando a hora de poder voltar a brincar.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Janela da alma



Existe um homem parado na porta.
Mas não é um hominho; é um homem de verdade.

Não traz nada na cestinha da bicicleta, simplesmente porque não há cestinha na bicicleta -
a cestinha cheia de sensibilidade está muito bem guardada no meio do peito.

Tem um homem parado na porta: remexe na mochila, procura o que não sai quando abre os fechos - está onde abre a porta.

Tem um homem de bicicleta parado na porta: faz caretas quando fala, enruga a testa na certeza, autêntico na saída, perfeito na sobrevivência.

Homem chega inteiro e sai inteiro, intacto, não tocado, a não ser por meu perfume, que como o de flor, chega de longe e fica colado na memória.

Homem lindo que não toca no interfone, distante invade meu sono; com medo evita meu olho, prefere ter a pele lida pela água do mar.

Homem indo, homem vindo, meu amigo mais preto do que branco, sai da porta!
Entra pela janela. Janela que parece fechada, mas janela que nunca esteve trancada. Janelinha da minha alma.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Jornal lido deve ser reciclado?



Meu amor acaba de pedir um tempo: precisa mais de conversas de bar, precisa mais de barulho alto, pra abafar o som do coração. Precisa de céu; quer terra não.

Meu amor acaba de saltar de bugging jump sem corda de elástico, porque ele quer adrenalina, e euzinha prefiro hormônios de relaxamento...

Meu amor saiu sutilmente, fazendo de conta que é do bem, que não quer me magoar.
Tem como não se magoar? Se tem como por favor, alguém me ajude, porque estou re_voltada, tipo andando pra trás mesmo...

Do tudo, me joga num precipício sem fundo, porque precisa pensar, precisa se juntar, precisa se confrontar.

E eu aqui em Copa, olhando o céu azul, doida pra cair no mar.

E ontem, depois de uma aula sobre gunas e sobre Deus abençoando tudo e todos, fico acreditando que o sofrimento é opcional, mas que a dor é inevitável. Fácil no texto batido, difícil na consciência mal resolvida.

Parei. Parei mesmo. Parei láááááááááá no fundo, porque chegou o fundo. Como David Frawley havia comentado num desses textos por aí: a sociedade de consumo anda passando dos limites - hoje somos jogados fora, descartados como jornal velho que não tem mais notícia pra dar.

Bem se sou jornal lido, tentarei me reciclar. Mas prefiro mesmo ser como um bom livro de poesia de Mario Quintana, atirado num sebo, sem tempo de espera, sem espaço especial na prateleira.

Apenas um livro, que precisa ser reescrito e lido por ele mesmo.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Maldade



"A maldade não tem por objetivo o sofrimento em si,
mas nosso próprio prazer,
em forma de sentimento de vingança
ou de uma mais forte excitação nervosa." (Nietzsche)


Foto: Meus mano vaha srotamsi estão assim, vazios, tristes. Essa aí de cima, é pra você Rodrigo Cota.

domingo, 1 de novembro de 2009

Do amor - para refletir


Nietzsche:

"O amor e o ódio não são cegos, mas ofuscados pelo fogo que trazem consigo"

Mario Quintana:

"Conhecer o mistério do corpo é talvez mais importante do que conhecer o mistério da alma"


O amor sem o fogo é brincar de descobrir somente os segredos da alma. Mas é o amor "afogado" que detém todo o mistério;

E é exatamente ali naquela via que nos perdemos. E depois no reencontramos mais inteiros.


foto: A placa Wrong Way em San Diego, na Califórnia: hora de dar a volta.