POESIA & INSIGHTS
"A poesia não é minha. É como o vento, que só passa através de mim." Chico Xavier

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

ainda suspiro



entendo porque não entendo
vislumbro o ar da palavra.

letra por letra desenhada, expressão da tua ação não reagida.


não quero ser mestre nem o estudante que pede tradução;
não quero ser terapeuta; abro mão de ser poeta também.

se no motivo sem motivo de brincar de brigar, me perco.
das linhas que aqui tenho, nas novecentas páginas de conhecimento da vida.

do que importa se a vida fica pausada
se a ponta dos dedos sente falta

se a inspiração cessa e me cobra?

das passadas nas esquinas de cada mesa não te encontrei, nem na passada de uma postura a outra, perco a postura, me enrosco.

na tua tranquilidade me aquieto, com tecla sempre e pra sempre querendo ser escolhida.



foto: Loja de sanduíches na Georgia. "Nunca subs, senão vira uma salad."

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Dos ombros


Ombros caídos:
Para alguns, timidez.
Outros examinam como proteção.

Das vezes que tive os meus entregues aos pés, significou a porta da frente fechada para estranhos mas, a das costas, completamente aberta, entregue, confiante.

O combustível foi amor, mas foi um amor astuto, onde só quem teve olhos de ver, pode perceber.

Ou aqueles que vinham atrás de mim, cuidando dos meus passos, me protegendo, como guarda-corações, ao invés de guarda-costas.

Os que vieram pela frente julgamentos; me viram somente vestida. Vários papéis, porque assim escolheram me enxergar.

O que veio pelas costas, passou a mão nas minhas feridas. Algumas arderam e eu reclamei - mas o toque suave aquietou o sentimento ardido, como cachorro de rua que ficou cansado de ser maltratado e foge quando estendem-lhe a mão.

Meus ombros pra frente são os que tenho há 34 anos: minha porta dos fundos está aberta, por lá fluem sentimentos transparentes, tudo aquilo que se pede, mas quando chega, ops, hora dele dar o fora.

O coração tem todos os lados. Engana-se quem só permite a visão da frente, bom para os que, insatisfeitos, dão a volta na casa querendo encontrar a porta dos fundos.



Foto: Cinco da manhã, aterro do Flamengo, RJ. Para Rodrigo, meu guarda tudo.

sábado, 10 de outubro de 2009

Filme remendado



Eu tenho andado como fita de vídeo locadora de quinta: rebobinada.

E não há nada de errado em ficar retrocedendo o tempo todo, mesmo que não completamente cedendo, mas me envolvendo em julgamentos que são infinitos quanto a minha pessoa.

As janelas da alma bem abertas: as portas bem abertas: ouvidos estalados, se é que podem ficar assim. É uma fluidez de sinais, frases prontas, teorias, shastras, dharsanas, upanishads, versos, aforismos que só eu sei. E tudo se encaixa e tudo faz sentido por apenas alguns minutos. Depois vai sei lá pra onde.

E me enveredo em mais dessas pílulas, alguns textos de Edgar Allan Poe, alguns poemas de Mário Quintana, e a voz de Satya Sai Baba. Nela me encontro, nela suspiro e me abraço.

Engraçado esse estado sem graça. Estado parado, de agonia e silêncio ao mesmo tempo.
Meu namorado some, celular não tem sinais. Meu coração ronca, minha garganta não arranha, mas também não canta mais.

Meus cachorros lá fora me olham e suspiram. Queria ver o que eles conseguem ver.
Os meus olhos saíram para o feriado, unidos aos meus ouvidos estalados, e o que ficou foi um pouco de olheiras, sono, cobrança, insegurança, som desafinado, como cordas arrebentadas de uma sitar.



Foto: Deixando o céu pra trás, em Denver, Colorado 2003.